DESISTIR É DAR RAZÃO AO CAMINHO MAIS LONGO PARA A FELICIDADE. (sf)

26/10/2010

São únicos?...Não.

O tempo não está, própriamente risonho. O Outono manifesta-se.
Acordei com o corpo todo arrepiado, mas não sabia se era de frio ou nervos. Os afrontamentos apareceram e as sensações de desmaio, também.
Tinha a minha cadelinha para ir à rua e não estava para isso... como não?
Levanta-te, toma o teu duche, vai com a bichinha à rua, respira fundo e compra o pão, quentinho, na panificadora.
Toma o pequeno almoço e agarra-te à vassoura. A casa está a precisar de uma boa varridela.
.
Já acabaste? Como te sentes? Vês, já passou, agora, para ficares melhor... abre o portátil e vai divagar com as palavras. Vai escrever, que é um dos teus prazeres. Escreve o que te vier à cabeça.
.
Foi isto que aconteceu, hoje, ao acordar.
Frio, tinha um pouco, mas nervos, também, e não sabia explicar porquê. Eram os afrontamentos, as tonturas e sensações de desmaio. Enfim...tive de recorrer ás "estratégias" que, em primeiro lugar, me estabilizassem o sentir no corpo e o pensar, racional e tranquilo. Como sabem, o pânico não é bom companheiro.
.
Bem, vamos, agora, partilhar outros sentires, outros episódios (não de hoje), mas que são conteúdo que justifica o ter criado este blogue.
.
Todo o Ser humano é alimentado por pequenos sinais, fora do normal, a que se dá o nome de "tiques". Quantas vezes, são esses "tiques" que os referencia em determinadas situações, mas identificar a causa e que indicativos dão, de que se sofre, ou não, de uma doença, embora, todos eles tenham uma definição clínica, requerem o parecer médico.
Pois bem, Amigos Bipolares,
Não acredito que nenhum de vocês, tal como eu, não tenham Um. É certo que ninguém sendo igual a ninguém, todos esses "tiques" se mostram de diferentes formas e são muitos. Uns são idênticos, têm parecenças e quase se pode dizer que são comuns a todos nós, mas outros, são completamente característicos, bem especificos logo, bem diferentes.
Vem a pergunta:
Sérgio, que queres dizer com isso?
Precisamente aquilo a que sempre me propuz, neste blogue e, contrariamente aos Amigos Bipolares que insistem não fazer porque pensam que não tem importância para a nossa ficha clínica. Porque mantêm a sua postura de nada revelar, embora, mesmo que negando a doença... os "tiques", na sua maior parte, são visíveis, notam-se bem.
Faça-se justiça e diga-se, que há muitos Amigos, permitam-me dizer que sou um deles, que não escondem e colaboram com os médicos. Enriquecem o conhecer de uma doença, ainda hoje, tão difícil de diagnosticar.
Vem outra pergunta:
Sérgio, então a que "tiques" te referes?
A vários, embora, não consiga expressar todos ou quase todos. Por exemplo...
Eu tenho/tinha, vários e partilho alguns. São eles:

Cada vez que abro o meu portátil, o meu primeiro gesto é a limpeza. Pego num mini espanador, que comprei de propósito para este fim e limpo, o monitor, o teclado, o rato e o seu tapete. Não estou a dizer que o faço uma vez por dia, mas sim, as muitas vezes, por dia, que abro o portátil...

Cada vez que utilizo o fogão para cozinhar e sempre que o apago, são várias as vezes que me certifico que ficou apagado, tocando repetidas vezes os botões, e só depois tranquilizo.

Sempre que ligo a máquina do café e depois de a utilizar, nada termina sem que veja, várias vezes, que a ficha ficou desligada da tomada.

Sempre que apago a televisão, ou a aparelhagem hi-fi, ou o dvd, também o trabalho não se dá por concluído sem que confirme, vendo várias vezes, se a luzinha do stand-by está acesa que, como sabemos, é sinal do aparelho desligado.

A porta de casa...quando saio ou quando me vou deitar é, várias vezes, confirmada se está mesmo fechada, rodando o seu puxador. No caso de ir sair, quantas vezes a volto a abrir para verificar se alguma luz ficou acesa e, novamente, repetir o trancar a fechadura.

Por norma, gosto de ter as coisas como, papéis, jornais, livros, a posição do portátil, cadeiras, vestuário, e de outras tantas coisas, sempre, escrupulosamente direitas... simetricamente. Dá-se o caso de ter visitas, por exemplo o meu filho (vive com a mãe), é certo que não o privo de mexer em nada, mas mal ele se levante ou deixe de mexer, no que quer que seja, aí estou eu, atrás dele, a pôr tudo à minha maneira.

A verificação de luzes bem apagadas, repetindo o gesto, no interruptor, ligando e desligando.

Os quadros da parede...têm de estar direitinhos. Uma ligeira inclinação, noto-a logo.
.
Sou católico, embora praticante... devesse ser muito mais. Assisto todos os dias, na RTP 2, ao programa Ecclesia. Programa dedicado à divulgação eclesiástica com, noticiários, eventos, curiosidades e, história eclesiástica desde a antiguidade.
Perguntam, onde está o "tique" com esta atitude?
A resposta:
Vendo, todos os dias, televisão e seja que canal for, ao desligar a mesma, faço-o deixando-a sintonizada na RTP 2. Se perceberam e sei que sim, reparam que cada vez que volto a ligá-la, ela abre sempre na RTP 2.
Gostavam de uma melhor explicação? Eu explico, confessando o motivo.
Por ser católico, ter Fé, deveria ir à igreja muito mais vezes, em agradecimento, e não vou. Assim sendo, por ver o programa (diário) Ecclesia na RTP 2, elegi esta estação como a "casa de Deus, a igreja", sempre presente em minha casa. Deu para perceber?
.
Bem, estes são, apenas, alguns de outros tantos que eu assumo e junto ás várias rotinas dos meus dias. Vocês, terão idênticos ou outros diferentes, que se revelam muito próprios. Uma outra forma de expressão e atitude.
.
Caros Amigos Bipolares,
Não tenham vergonha. Estes "tiques", visíveis e os não visíveis, denunciam "atitudes" e só os nossos médicos, a família, os amigos, podem associá-los, ou não, à nossa doença. Eu, muitos já eliminei outros, ainda não. Aprendi e continuo a aprender. Faço o que posso para minimizar, eliminar, todo e qualquer síntoma que, por outro lado, omitindo, só posso esperar o pior.
.
Quero, contudo, reafirmar que estes "tiques" e muitos outros, sem a opinião médica, NÃO indiciam que são síntomas de doença Bipolar. O que aqui relato, não passa "do partilhar episódios" clinicos que fazem parte de mim.
.
Ahh...
Se estou melhor dos afrontamentos, tonturas, sensações de desmaio, etc...?
Já é passado, agora vou almoçar.
.
até
.

01/10/2010

um segundo = a resistir...

Vejo-me na necessidade de partilhar convosco, a dificuldade e consequências, que observo, sinto, das pessoas que não sendo portadoras da doença Bipolar, têm em lidar com os que dela padecem.
.
Se, já de si, é penoso para o doente, acreditem que muito mais o é, para com quem lida com o próprio.
A doença Bipolar tem muitas variantes, apenas, porque ninguém é igual a ninguém e, assim sendo, ela revela-se na dependência, também, e muito de acordo com a postura de cada um.
Costumo dizer, que quem convive com um doente bipolar e refiro-me, principalmente, aos que partilham o mesmo tecto, tanto conjugal, familiar e profissional, é tão Bipolar quanto o doente.
Porquê?
Todos nós, em geral, doentes e não doentes, temos dias bons e outros maus, não só porque estamos sujeitos aos contratempos que o dia-a-dia nos "oferece" e com os quais somos "convidados" ao confronto, bem como, a diferença de carácter e sociabilidade que temos e todos pode... afastar ou, unir.
Pois bem, tudo isto para dizer, que há doentes Bipolares, receptivos e outros, que se negam, assim como, falando nos que convivem com os Bipolares, também há os que aceitam, sofrem e se mantêm no esforço de ajuda, bem como, os que simplesmente se afastam, é demasiado forte para o seu "estar" e não perfilha com o seu modelo de vida.
Tudo se resume ao carácter e postura de personalidade de ambos.
Falando, concretamente dos, não Bipolares, que aceitam o "receio" de conviverem com um portador da doença posso, apenas, dizer que pode estar perante alguém que privilegia o acreditar viver em harmonia e bem-estar, sendo que, aceita a doença, a ela se dedica, aprendendo a conhecê-la nos seus momentos, altos e outros, baixos, dando-se ao respeito pelos seus médicos, mas muito principalmente, favorecendo o diálogo, saudável, com quem partilha o mesmo tecto. Nesta situação, que é possível, é real em muitos casos, existe VONTADE, ALEGRIA, HARMONIA. Porém, infelizmente...
há FRAQUEZA, DESINTERESSE, INFELICIDADE, por outros tectos e refiro-me, aos doentes que têm como palavra de ordem NEGAÇÃO.
.
Caros Bipolares,
Com esta postura os vossos sorrisos não são verdadeiros, reais, sentidos.
.
É nestes casos, NEGAÇÃO, que conviver com o doente Bipolar, seja debaixo do mesmo tecto ou, profissionalmente e outras situações de convívio, se APELA, à grande capacidade de compreensão, tolerância, conhecimento da doença, seus síntomas, ajuda, sem pressões e, embora com muita dificuldade, motivação, para promover o diálogo, que se quer simples, mas convincente, para o doente conquistar um restabelecimento, mínimo, do seu equilibrio que se revelará, na participação, onde a calma, a aceitação dos síntomas, o dar-se a ouvir, se vão sentindo, são visíveis. Agora...
Não sendo possível, pela grande resistência do doente e falta de visão racional, da fase que está a atravessar... não admite sequer, qualquer diálogo, apresentando até, uma terrível Falta de Humor, onde tudo o que se lhe possa dizer, para ele são contrariedades, rejeição... aí, requere-se a ida à urgência médica, o que será bem difícil de o convencer.
.
É uma luta demasiado "injusta" para quem lida com os doentes Bipolares.
.
Caros Bipolares,
Por favor, saibam aceitar a doença, saibam reconhecer, antecipadamente, momentos de crise que se aproxima, partilhando com os médicos e companheiros mais directos, os síntomas e resistam ao caminho do sofrimento. Aceitem, quando alguém que vos conhece e sabe do vosso sofrimento, da doença, vos revela notarem-vos diferentes em atitudes e, permitam o diálogo. Façam um esforço por pensar, por segundos, qual a vida que desejam se, em equilibrio ou... na desgraça.
.
Sei, por experiência própria, em tempos, o quanto custa admitir que estou com determinadas atitudes, que me levam a pensar poder estar a entrar no princípio de uma crise. São muitos e muitos mesmo, os que não se interessam e... caem nas consequências. Agora, pensem uns segundos, como disse, e digam-me se não será mais tranquilizador e, simples, chegar junto do nosso/a companheiro/a e perguntar... Notas alguma coisa de diferente em mim?
A resposta que obtivermos é importante. Pode ser a confirmação do que possam estar a sentir e, de imediato, entram no estado de "tratamento" preventivo, evitando o sofrimento.
Sendo a resposta o contrário, não...não noto nada de especial, nesse caso, podemos usufruir do continuado "sorrir". Contudo, insisto...se a situação for a de sentir alterações como, uma enorme boa disposição acompanhada de risos por tudo e por nada, o intrometer-se em conversas que não lhe dizem respeito, um humor exagerado, gastos infundados, falta de respeito com os medicamentos, não os tomando, ou uma tremenda tristeza culminando com uma terrível Falta de Humor onde tudo é visto como contrariedade, discussão, isolamento, falta de interesse pelo que é o seu ritual diário como, higiene, falta de apetite, não conseguir concentrar-se e ler com sentido interpretativo, etc, repito...há que admitir e saber o caminho a percorrer. Repito, um primeiro diálogo com alguém de nossa confiança, é meio caminho andado para controlar e dar valor a um melhor Bem-Estar.
.
Acredito que muitos possam pensar que são conversas de blá...blá...blá. Eu recuso-me a pensar assim e por isso, aqui estou a "confessar" experiências minhas.
.
É doloroso, para quem não sofre da doença, conviver connosco se não dermos valor à Aceitação.
.
até
.